O campo de trabalho para fisioterapeutas na América do Norte mudou muito nos últimos dez anos. Isto ocorreu principalmente devido à mudança do sistema de saúde Norte Americano. Esta mudança afetou a maneira que fisioterapeutas trabalham no Canadá nos meados dos anos noventas e começou a afetar o campo de trabalho de fisioterapeutas americanos agora no final desta década também.
No Canadá, o sistema de saúde é parcialmente socializado, os fisioterapeutas recebiam o pagamento do governo, mas as clínicas deles eram particulares.
Apesar desta socialização da medicina, o serviço de saúde é de primeiro mundo. Ou seja, não existe fila para atendimento de pacientes, qualquer paciente recebe o mesmo tratamento independente da condição financeira do mesmo.
No Canadá na cidade que morei de 660 mil habitantes, em 1994, existiam por volta de 80 clínicas particulares de fisioterapia, cada uma com seu próprio dono, geralmente um fisioterapeuta. Os fisioterapeutas também são bem remunerados, com a média de salários de recém formados por volta de pelo menos 30 mil dólares canadenses anuais. Os terapeutas que tinham suas próprias clínicas geralmente ganhavam mais de 80 mil dólares canadenses anuais. Muitos tinham duas ou três clínicas.
Quando comecei a trabalhar no Canadá (na província de Alberta) em 1991, todo paciente tinha que visitar um médico de família ou de consultoria geral antes de ser enviado à um especialista. No caso de pacientes com disfunções ortopédicas ou músculo-esqueléticas, minha área de atuação, estes pacientes visitavam um médico de família e estes eram inicialmente encaminhados à fisioterapeutas. Os médicos de família, faziam um exame geral do paciente, e se o paciente não tivesse um problema que requeresse uma intervenção de médicos especialistas (fraturas recentes, lesão nervosa do sistema nervoso central, câncer, etc) estes eram encaminhados à fisioterapeutas. Os pacientes recebiam tratamento por 4 à 6 semanas, e se não melhorassem, eles eram enviados à um especialista. Os fisioterapeutas, as vezes, tratavam estes pacientes por semanas ou meses, se o médico generalista continuasse a prescrever fisioterapia. Este tratamento ocorria sem controle administrativo do governo. Esta falta de controle administrativo levou ao abuso de médicos e fisioterapeutas dos serviços de saúde. Muitos tratavam para ganhar dinheiro e não controlavam os seus gastos.
Nos anos de 1992 e 93, o governo canadense começou a controlar o uso dos serviços de saúde. Com a opinião de seus próprios especialistas, o governo parou de aprovar tratamento sem controle administrativo. O número de visitas fisioterápicas que não tinha limites após uma cirurgia, também passou a ser controlado. Todo paciente passou a ter direito de apenas 15 visitas por ano, não importando o diagnóstico do mesmo. A não ser que o paciente pagasse de seu bolso. O controle sobre o atendimento médico também afetou o número de pacientes encaminhados à fisioterapeutas. O governo passou a fiscalizar motivo de cirurgias ortopédicas, motivos para prescrição de fisioterapia, e o motivo para simplesmente se fazer uma visita médica.
Assim, muitos médicos pararam de encaminhar pacientes para fisioterapia para diminuir os custos do governo, mas também para sobrar mais dinheiro para eles tratarem seus próprios pacientes. O número de clínicas, na cidade onde morei caiu de 80 para 50 em dois anos. Isto estimulou a ida de muitos
fisioterapeutas do Canadá para os Estados Unidos, onde o campo de trabalho estava muito bom. Em 1994, mudei para a Florida e perdi um pouco de contato com os fisioterapeutas canadenses. Entretanto, sei que os fisioterapeutas da província de Alberta trocaram o controle médico de prescrições para a autonomia de atendimento direto de pacientes. Portanto, atualmente, visitas à fisioterapeutas, como visitas à dentistas, não são pagas pelo governo, e o paciente tem que pagar seguro de saúde privado para isto ou pagar pela visita do próprio bolso, por volta de 30 dólares canadenses por visita quando sai do Canadá em 1994. Entretanto, como dentistas, fisioterapeutas são autônomos e podem tratar pacientes sem um encaminhamento médico.
Quando Mudei para Florida em 1994, o campo de trabalho para fisioterapeutas estava excelente. A demanda para fisioterapeutas nos Estados Unidos estava tão grande que existiam universidades na Irlanda e Holanda montando currículos para formar profissionais para trabalhar nos Estados Unidos. Entretanto, o capitalismo americano rapidamente supriu tal demanda. No estado da Florida, o número de universidades com currículos para fisioterapeutas dobrou de 4 para 8 universidades de 1990 à 1999 e existem atualmente 3 mais universidades que irão iniciar programas a qualquer momento. Isto sem contar que existem 14 Colleges que formam assistentes de fisioterapeutas e 3 outros que estão para começar a qualquer momento; assistentes na Florida ajudam imensamente a suprir a demanda de trabalho fisioterápico. Muitas escolas particulares estão interessadas a ganhar dinheiro, muitas chegam a cobrar mais de 15 mil dólares por ano, e o número de profissionais no mercado não altera o número de fisioterapeutas que elas formam. Portanto, agora em 99 o campo de trabalho no Estado da Florida esta ficando saturado.
O salário do recém formado americano também diminuiu nos últimos 12 meses. Além do aumento de fisioterapeutas do mercado de trabalho, a mudança no sistema de saúde americano também contribui para esta queda de salários.
Os Estados Unidos agora tem muitas companhias de seguro saúde afiladas à Health Management Organizations (HMOs). Estes HMOs são organizações que controlam o custo de serviços fornecidos por companhias de seguro saúde. Este controle de custo ocorreu para diminuir o abuso do sistema de saúde americano. Como no Canadá, muitos médicos e fisioterapeutas tratavam sem controlar gastos, os HMOs formaram-se para controlar estes gastos. Antes de HMOs, fisioterapeutas cobravam 30 à 50 dólares por uma aplicação de compressa de água quente ou de ultrasom; atualmente, companhias de seguro saúde não pagam mais por compressa de água quente e o número pago de sessões de ultrasom é limitado. O resultado global deste controle fiscal de gastos contribuiu para a redução nos salários de fisioterapeutas, o recém formado que começava ganhando 36 à 40 mil dolares por ano em 1994, agora começa em 32 à 36 mil na Florida.
Para aqueles brasileiros que pensam em trabalhar nos Estados Unidos como fisioterapeutas, achar trabalho aqui não esta fácil. Enquanto que há uns dois anos atrás o fisioterapeuta podia escolher a cidade e o estado onde quisesse trabalhar, hoje esta situação esta muito mudada. Esta mais fácil de achar
emprego em estados como Alabama, Luisiana, Georgia, Carolina do Norte e talvez o Texas. Em muitos estados populares entre brasileiros (Nova York, Florida, ou Califórnia) achar trabalho em fisioterapia não esta fácil, principalmente em centros urbanos (Miami, São Franscisco, Nova York, Orlando, Boston, etc). A situação fica ainda mais difícil por que os americanos dificultaram a entrada de estrangeiros que querem trabalhar aqui. A American Physical Therapy Associantion (APTA) parece que tomou medidas para proteger o campo de trabalho para americanos. O número de visto emitidos para fisioterapeutas pelo governo diminui consideravelmente. Os requerimentos para obter a licença para trabalhar aqui aumentaram. Atualmente, muitos estados americanos exigem que o estrangeiro passe no TOEFL (teste escrito de inglês que inclui uma parte de audição também) e o teste de Skopen English (teste onde o indivíduo tem que falar em inglês). Além destes últimos testes, existe o exame nacional de fisioterapia, este exame tem muitas perguntas associadas com o sistema de saúde americano e alguns assuntos que não são abordados no currículo tradicional brasileiro, isto dificulta a entrada do fisioterapeuta brasileiro nos EUA. Mas o que vai cortar a entrada de fisioterapeutas estrangeiros aqui quase por completo foi a resolução da APTA de mudar os requerimentos de formação em fisioterapia. A partir do ano 2002, toda escola de fisioterapia nos EUA têm que formar fisioterapeutas com nível pelo menos de mestrado. Ou seja, fisioterapeutas formados com nível de bacharelado não receberão licenças. Como no Brasil a formação de fisioterapeutas é de nível de bacharelado, o profissional formado no Brasil não poderá atuar aqui, a não que ele obtenha a licença antes do ano 2002. Portanto, se brasileiros quiserem vir trabalhar aqui, eles tem que agir antes do ano de 2002.
Escrevo este artigo para informar o brasileiro da mudança do campo de trabalho para fisioterapeutas na América do Norte nos últimos anos. Não escrevo para desanimar o brasileiro que quer vir trabalhar aqui, mas gostaria de alerta-los que não esta fácil de achar emprego como estava há uns anos atrás. Conheço casos de muitos brasileiros que passaram muitas horas estudando para tentar trabalhar aqui. Muitos destes não conseguiram passar no exame nacional de fisioterapia, alguns chegaram a repetir o exame 6 vezes.
Certos estados americanos agora não permitem que o indivíduo faça exame mais de três vezes. Conheço pessoas que vieram das melhores universidades do Brasil e mesmo assim não conseguiram licença. Assim, muitos voltam para o Brasil desanimados.
O Brasileiro ainda pode arrumar emprego aqui e talvez patrocínio para visto de trabalho. Entretanto, a dificuldade para achar emprego e conseguir licença esta bem maior.

Espero que tenha gostado da nossa abordagem.
Entre no grupo de Whatsapp sobre Fisioterapia no Covid
Ebook Grátis: Ventilação Mecânica no DPOC e COVID 19.
Ebook Grátis: Fisioterapia Respiratória no Covid