Emoção e razão nas decisões econômicas
Oscar Wilde dizia que, “Neste mundo existem apenas duas tragédias. A primeira é não se obter tudo que se deseja, a segunda, é obtê-lo. E esta última é a verdadeira tragédia.”
Esta observação, tão perspicaz, aponta para uma grande verdade: nossa vida é marcada pela busca por satisfação ou, se preferirmos, por manter longe o sofrimento representado pela frustração de nossas necessidades e desejos. Alcançar este objetivo implica escolher caminhos.
Psicanálise, Psicologia Econômica, Economia Psicológica ou Comportamental, Finanças Comportamentais e a jovem Neuroeconomia estudam como tomamos decisões, sendo que as últimas concentram-se nas decisões econômicas, como comprar, poupar, trabalhar, investir, apostar, endividar-se, ou seja, a administração do dinheiro em geral. As etapas mentais que compõem uma escolha têm sempre o mesmo objetivo final – afastar-se do desconforto representado pela insatisfação, buscando o prazer da gratificação. No caso de uma decisão econômica, queremos, sempre, fazer um bom negócio, é claro.
Contudo, temos dois modos distintos de tentar atingir este objetivo: o primeiro, mais primitivo, tanto em termos de espécie, como do ponto de vista do desenvolvimento do indivíduo, está inscrito nos circuitos emocionais e neurológicos que visam nossa sobrevivência – caracteriza-se por avaliações rápidas e globais, mesmo que se perca em precisão, já que a pressão por uma resolução imediata do problema que incomoda é muito grande.
Com esse sentido de urgência, a mente procura, no mínimo, livrar-se da tensão provocada pela ausência de satisfação – mesmo que, com isso, não esteja resolvendo a questão. Ilusões, fantasias, criação de realidades “paralelas” nas quais tudo funciona como gostaríamos, manobras diversionistas, tudo é usado como recurso para evitar sentir o desconforto da frustração, ainda que não seja racional ou realista.
A coisa toda fica facilitada porque temos muitas limitações – cognitivas e emocionais, que nos tornam vulneráveis a equívocos. Por exemplo, diante de um excesso de informações, que não podem ser adequadamente processadas, tenta-se “cortar caminho”, adotando as chamadas regras de bolso, ou heurísticas, para avaliar situações complexas.
Com isso, corre-se o risco de cair em “armadilhas”, erros sistemáticos, como ser influenciado mais pela maneira como os dados são apresentados, do que por seu conteúdo; julgar o futuro com base no passado, desprezando informações relevantes sobre o presente; considerar mais as últimas experiências, eliminando outras evidências.
Se tomarmos como exemplos o mercado de investimentos, ou a decisão entre comprar e endividar-se ou segurar a vontade e não comprar, adquirir um seguro saúde ou não, planejar a aposentadoria desta ou daquela maneira, não é difícil supor a grande quantidade de incorreções que poderiam resultar destes atalhos mentais. Pode até assustar!
Do ponto de vista emocional, temos outra importante fonte de desvios de percepção, que podem prejudicar o retorno das escolhas feitas. As emoções têm um peso grande sobre o nosso funcionamento intelectual e sobre as decisões que tomamos, porque os pensamentos encontram-se mergulhados em matrizes emocionais.
Isso significa que, para haver pensamentos, uma condição emocional precisa ser preenchida – se não for, não pensamos de verdade, só enchemos a cabeça com ‘entulho’. Essa condição é chamada de capacidade de tolerância à frustração, e ela que vai permitir que se instale a segunda modalidade de tomada de decisões, mais associada à racionalidade.
O processo, neste caso, é mais lento e complexo: vai da percepção cuidadosa e mais imparcial – porque não se restringe a considerar real só o que agrada – até atenção, registro dos dados percebidos na memória, distinção entre o que é real e o que não é, chegando à possibilidade de se revelarem novos ângulos e horizontes, que permitam, então, enxergar saídas que não eram vistas antes.
Isso pode favorecer que se alcance o objetivo desejado, de satisfação do desejo, o que vai incluir, portanto, a própria eliminação daquela frustração que deu início a todo o processo – agora, há maiores chances de empreender ações efetivas de transformação da realidade.
Por isso, é esta a chave – tolerar os sentimentos desagradáveis que, inevitavelmente, acompanham a sensação de falta, pois será apenas na ausência da satisfação que nossa mente encontrará as condições propícias ao aparecimento dos pensamentos – e, para decidir bem, é fundamental conhecer com rigor o que nos é apresentado e pensar com isenção sobre as alternativas de que dispomos.
Podemos pagar um preço alto, se ficamos reféns da impaciência e da onipotência. Confiança excessiva nos próprios julgamentos, aversão a perdas, que leva a correr riscos, normalmente evitados (por exemplo, preferir não vender ações que estão desvalorizando-se, com a esperança de que possam voltar a subir), hábitos que se opõem ao bom-senso e, ainda assim, são mantidos, em suma, vulnerabilidade às ilusões, pois desejamos tanto manter as frustrações à distância, que preferimos acreditar no que nos agrada – e não, no que está, de fato, ocorrendo.
Felizmente, para compensar um pouco tantas fragilidades, temos, por outro lado, a possibilidade de aprender com a experiência. E os erros podem ser os grandes mestres – desde que, mais uma vez, a gente consiga encará-los sem dourar muito a pílula.
Freqüentemente, depois de doer no bolso, a gente começa a parar e olhar de outro modo para velhos problemas. Quando esta pequena fresta se abre, vale a pena dar uma chance para encarar com coragem o que está atrapalhando e, como diz Bion, um famoso psicanalista inglês, tentar “tornar bom o mau negócio”.
Autora: Vera Rita de Mello Ferreira
Esta observação, tão perspicaz, aponta para uma grande verdade: nossa vida é marcada pela busca por satisfação ou, se preferirmos, por manter longe o sofrimento representado pela frustração de nossas necessidades e desejos. Alcançar este objetivo implica escolher caminhos.
Psicanálise, Psicologia Econômica, Economia Psicológica ou Comportamental, Finanças Comportamentais e a jovem Neuroeconomia estudam como tomamos decisões, sendo que as últimas concentram-se nas decisões econômicas, como comprar, poupar, trabalhar, investir, apostar, endividar-se, ou seja, a administração do dinheiro em geral. As etapas mentais que compõem uma escolha têm sempre o mesmo objetivo final – afastar-se do desconforto representado pela insatisfação, buscando o prazer da gratificação. No caso de uma decisão econômica, queremos, sempre, fazer um bom negócio, é claro.
Contudo, temos dois modos distintos de tentar atingir este objetivo: o primeiro, mais primitivo, tanto em termos de espécie, como do ponto de vista do desenvolvimento do indivíduo, está inscrito nos circuitos emocionais e neurológicos que visam nossa sobrevivência – caracteriza-se por avaliações rápidas e globais, mesmo que se perca em precisão, já que a pressão por uma resolução imediata do problema que incomoda é muito grande.
Com esse sentido de urgência, a mente procura, no mínimo, livrar-se da tensão provocada pela ausência de satisfação – mesmo que, com isso, não esteja resolvendo a questão. Ilusões, fantasias, criação de realidades “paralelas” nas quais tudo funciona como gostaríamos, manobras diversionistas, tudo é usado como recurso para evitar sentir o desconforto da frustração, ainda que não seja racional ou realista.
A coisa toda fica facilitada porque temos muitas limitações – cognitivas e emocionais, que nos tornam vulneráveis a equívocos. Por exemplo, diante de um excesso de informações, que não podem ser adequadamente processadas, tenta-se “cortar caminho”, adotando as chamadas regras de bolso, ou heurísticas, para avaliar situações complexas.
Com isso, corre-se o risco de cair em “armadilhas”, erros sistemáticos, como ser influenciado mais pela maneira como os dados são apresentados, do que por seu conteúdo; julgar o futuro com base no passado, desprezando informações relevantes sobre o presente; considerar mais as últimas experiências, eliminando outras evidências.
Se tomarmos como exemplos o mercado de investimentos, ou a decisão entre comprar e endividar-se ou segurar a vontade e não comprar, adquirir um seguro saúde ou não, planejar a aposentadoria desta ou daquela maneira, não é difícil supor a grande quantidade de incorreções que poderiam resultar destes atalhos mentais. Pode até assustar!
Do ponto de vista emocional, temos outra importante fonte de desvios de percepção, que podem prejudicar o retorno das escolhas feitas. As emoções têm um peso grande sobre o nosso funcionamento intelectual e sobre as decisões que tomamos, porque os pensamentos encontram-se mergulhados em matrizes emocionais.
Isso significa que, para haver pensamentos, uma condição emocional precisa ser preenchida – se não for, não pensamos de verdade, só enchemos a cabeça com ‘entulho’. Essa condição é chamada de capacidade de tolerância à frustração, e ela que vai permitir que se instale a segunda modalidade de tomada de decisões, mais associada à racionalidade.
O processo, neste caso, é mais lento e complexo: vai da percepção cuidadosa e mais imparcial – porque não se restringe a considerar real só o que agrada – até atenção, registro dos dados percebidos na memória, distinção entre o que é real e o que não é, chegando à possibilidade de se revelarem novos ângulos e horizontes, que permitam, então, enxergar saídas que não eram vistas antes.
Isso pode favorecer que se alcance o objetivo desejado, de satisfação do desejo, o que vai incluir, portanto, a própria eliminação daquela frustração que deu início a todo o processo – agora, há maiores chances de empreender ações efetivas de transformação da realidade.
Por isso, é esta a chave – tolerar os sentimentos desagradáveis que, inevitavelmente, acompanham a sensação de falta, pois será apenas na ausência da satisfação que nossa mente encontrará as condições propícias ao aparecimento dos pensamentos – e, para decidir bem, é fundamental conhecer com rigor o que nos é apresentado e pensar com isenção sobre as alternativas de que dispomos.
Podemos pagar um preço alto, se ficamos reféns da impaciência e da onipotência. Confiança excessiva nos próprios julgamentos, aversão a perdas, que leva a correr riscos, normalmente evitados (por exemplo, preferir não vender ações que estão desvalorizando-se, com a esperança de que possam voltar a subir), hábitos que se opõem ao bom-senso e, ainda assim, são mantidos, em suma, vulnerabilidade às ilusões, pois desejamos tanto manter as frustrações à distância, que preferimos acreditar no que nos agrada – e não, no que está, de fato, ocorrendo.
Felizmente, para compensar um pouco tantas fragilidades, temos, por outro lado, a possibilidade de aprender com a experiência. E os erros podem ser os grandes mestres – desde que, mais uma vez, a gente consiga encará-los sem dourar muito a pílula.
Freqüentemente, depois de doer no bolso, a gente começa a parar e olhar de outro modo para velhos problemas. Quando esta pequena fresta se abre, vale a pena dar uma chance para encarar com coragem o que está atrapalhando e, como diz Bion, um famoso psicanalista inglês, tentar “tornar bom o mau negócio”.
Autora: Vera Rita de Mello Ferreira
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